TIMIDEZ EXCESSIVA OU MUTISMO SELETIVO?
Luciana Macedo Fernandes
OBJETIVO: Alertar pais, educadores e profissionais da área de saúde para um distúrbio pouco conhecido e, muitas vezes, confundido com timidez afim de que se possa obter um diagnóstico e intervenção corretos o mais cedo possível.
Achei, no mínimo, estranho quando fui procurada no consultório pelos pais de uma menina de 07 anos de idade que aqui chamarei de Ana, com a seguinte queixa: “não fala com todo mundo, só com algumas pessoas”. Mais tarde ficou claro que esse ‘algumas pessoas’ se resumia aos familiares mais íntimos. Por se dizerem pessoas tímidas, os pais de Ana visualizaram nela uma timidez característica da família. Como em casa a Ana sempre se comunicou muito bem, os pais não viam grandes problemas.Porém, essa situação harmônica mudou quando a Ana se deparou em ambiente escolar e se viu frente a situações cotidianas de convívio social. Mesmo falando fluentemente em casa e com a família, fica calada em certas situações, normalmente na escola e situações sociais. Na escola, às vezes, não consegue sequer pedir para ir ao banheiro e em alguns casos se comunica apenas por gestos e, posteriormente, com muita insistência por parte dos profissionais, através de bilhetes. Daí surgiu a necessidade de um diagnóstico seguro que pudesse ajudar a Ana a se desvencilhar dessa “timidez”.
A Ana passou por alguns profissionais, mas não surgia diagnóstico preciso. Fiquei intrigada com o caso dela e procurei caminhos, caminhos esses que me levaram a um distúrbio de fundo emocional: o mutismo seletivo.
O Mutismo Seletivo, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM.IV) é o fracasso persistente em falar em situações sociais específicas (por exemplo, escola, com colegas de brincadeiras) onde seria esperado que falasse, apesar de falar em outras situações. Os Critérios Diagnósticos para o Mutismo Seletivo, segundo o DSM.IV são:A. Fracasso persistente em falar em situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa para, por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações.B. A perturbação interfere na realização educacional ou ocupacional ou na comunicação social.C. A duração da perturbação é de no mínimo um mês (não limitada ao primeiro mês de escolarização).D. O fracasso em falar não se deve a uma falta de conhecimento ou desconforto com a linguagem falada exigida pela situação social.E. A perturbação não é melhor explicada por um Transtorno da Comunicação (por exemplo, Tartamudez), nem ocorre exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico.
Antes se pensava que esse distúrbio atingia um em cada 1.000 crianças, mas atualmente, a partir de estudos realizados pela American Academy of Child and Adolescent Psychiatry mudou-se essa visão. A proporção é de 07 para cada 1.000 crianças, tornando o mutismo seletivo duas vezes mais freqüente do que o autismo. Apesar de bem menos conhecido.O início do distúrbio geralmente se dá antes dos 05 anos de idade, crianças mais novas têm uma tendência maior deste distúrbio e é ligeiramente mais comum no sexo feminino. É difícil de ser notado, pois a criança com mutismo seletivo não perturba ninguém e passa por quietinha. É a famosa “boazinha”. Não se trata de timidez própria do primeiro mês de escolarização, durante o qual muitas crianças podem mostrar-se retraídas e relutantes em falar. A perturbação interfere na realização escolar, ocupacional ou na comunicação social. Daí a necessidade de ajuda profissional: é uma recusa psicologicamente determinada em falar.Devemos ter o cuidado de, Inicialmente, descartar as causas físicas e realizar avaliação com psiquiatras e neurologistas, pois se trata de um distúrbio de fundo emocional.O Mutismo Seletivo pode ser desencadeado por uma conjunção de vários fatores: experiência negativa pela qual a criança passou (violência física ou verbal) ou uma grande decepção, o próprio temperamento da criança, excessiva timidez, medo do embaraço social, isolamento e retraimento social, dependência, traços compulsivos, negativismo, acessos de raiva ou comportamento controlador ou opositivo. A Genética também conta, estatísticas mostram que 70% das crianças afetadas pelo transtorno têm um parente próximo com histórico de perturbações psicológicas.Embora a perturbação em geral dure apenas alguns meses, às vezes ela pode persistir até por vários anos. Como foi o caso de Ben Grocock, um adolescente de 13 anos, morador da região britânica da Cornualha, que passou 10 anos de sua vida sem se comunicar verbalmente com colegas, professores e muitos de seus familiares. O motivo, descoberto bem depois foi uma cirurgia de amídalas a qual foi submetido e ele prometeu a si mesmo não falar mais com ninguém, em represália. Mas a história de Bem teve um final feliz quando, durante um curso de autoconfiança promovido pelo Corpo de Bombeiros da sua cidade, ele balbuciou: “obrigado”. Agora até se diverte dando entrevistas a respeito de seu incrível caso.
Não existe uma prevenção específica. É importante que as pessoas tomem conhecimento, troquem experiências, divulguem informações para que as soluções sejam encontradas.Quando se fala em tratamento do Mutismo Seletivo, nos encontramos com uma rede de tentativas e torcida constante para que dê bons resultados. A melhor maneira de tratamento para este tipo de distúrbio parece ser o aconselhamento individual, comportamental e familiar. Alguns profissionais chegam a adotar remédios antidepressivos, a depender da avaliação de cada caso. Também podem ser utilizadas técnicas psico-diagnósticas com base psicanalítica, ludoterapia, arte terapia, psicoterapia corporal, entre outras. Porém, a criança pode ficar anos em atendimento e não se comunicar verbalmente com o terapeuta. É essencial um trabalho em equipe envolvendo profissionais, família e escola. Dar tempo ao tempo é fundamental, respeitar esse tempo individual que cada um de nós possui e buscar caminhos para serem percorridos juntos em busca de experiências bem sucedidas com crianças portadoras do Mutismo Seletivo.
Gênero textual: tirinha
Há 2 meses
7 comentários:
Patricia obrigado pelas dicas procurei algo sobre mutismo seletivo e não havia encontrado muita coisa e me disseram que tem muita coisa em ingles,fiquei muito surpresa.
Sou estudante de psicologia e faço estágio em uma escola e encontrei uma criança que está apresentando esse quadro,corri para a internet e me deparei com vc ,fico grata viu,um grande abraço Eliana
Muito obrigada pela informação em relação ao mutismo seletivo, descobri que minha filha sofre desse distúrbio. Foi muito útil!
Muito obrigado, sou mãe de uma menina de 6 anos de nome Carolina a qual foi-lhe diagnósticado o mutismo selectivo. Estou ansiosa para comecar o tratamento
sou mae de um menino do 8 anos estanos em tramento a 2 anos ele ja se comunica mais estamos felis obrigado
Patricia, meu nome e Pollyana sou acadêmica do curso de psicologia em Patos de Minas estou construindo um artigo para meu TCC e achei seu artigo muito rico e quero acrescentar uma citação que você usou, mas nescessito das referencias bibliográficas;desde já muito obrigado e parabéns belos artigos postados em seu blog que contribui para o conhecimento alheio.
a minha filha tem 4 anos e nao comunica com pessoeas da escola , estranhos ou vizinhos ou familiares mais distantes, ela ja anda assim a mais de um ano,é muito dificil, ela esta a ser assistida, obrigado pelas dicas
oi meu nome é renata e minha filha tem esse problema mutismo seletismo...é dificil demais ver minha filha numa situação dessa mas há 4 anos venho lutando por isso, fazendo com que ela se solta mas é dificil
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